marți, 3 februarie 2009

Mulher 'mora' há 17 dias no aeroporto de Salvador, na Bahia

CÔMICO, SE NÃO FOSSE TRÁGICO.
Fonte: UOL
Em Salvador (BA)

Ela não conhece o ator Tom Hanks, não assistiu ao filme 'O Terminal', mas passa por uma situação semelhante àquela vivida pelo personagem interpretado pelo ator americano no aeroporto de Nova York (EUA). Cássia Oliveira Duarte, 32, está morando há 17 dias no Aeroporto Internacional de Salvador e, somente nesta terça-feira (3), vê aproximar-se a possibilidade de voltar para casa, na cidade de Palmeirópolis, a duas horas de Palmas, no Tocantins.
Tímida e economizando nos detalhes sobre como foi parar no aeroporto, ela conta que residia havia três anos em Madri, na Espanha, para onde foi em companhia de uma amiga, cujo nome também não quis revelar. O objetivo era o mesmo de tantos outros brasileiros que se arriscam transferindo-se para países europeus em busca de trabalho e uma melhor condição de vida.
Descoberta pela imigração espanhola, Cássia foi obrigada a voltar para o Brasil e, sem dinheiro, angaria dinheiro com funcionários do aeroporto de Salvador para voltar para casa, em Palmeirópolis, no Tocantins. Cássia conta que trabalhava clandestinamente, como doméstica, e a maior parte do dinheiro que recebia enviava para a família no Brasil. Ela é separada do marido e tem dois filhos, de 16 e 12 anos, que ficaram com a avó, no interior de Tocantins.
Cássia não revela em quais circunstâncias foi descoberta pela imigração daquele país, mas insiste que não houve denúncia. Como bagagem, carrega apenas uma bolsa e um saco preto - do tipo usado para colocar lixo - onde estão guardadas algumas peças de roupa.
Nem dinheiro ela conseguiu juntar. Chegou em território brasileiro apenas com algumas moedas, que de pouco lhe serviram. Ao longo desses 17 dias em que está hospedada no aeroporto da capital baiana, Cássia tem sobrevivido com a ajuda de quem trabalha no local.
Segundo ela, funcionários do terminal aéreo se cotizam para arrecadar a quantia necessária para que consiga completar a viagem de volta para casa. O fato incomum não foi levado ao conhecimento de nenhum órgão responsável pelo acolhimento de pessoas sem-teto e sem recursos.
Cássia dorme no chão, sobre as poucas peças de roupa que carrega, no terceiro piso do terminal. Alimenta-se de sanduíches que ganha e, para higiene pessoal, utiliza as dependências dos funcionários. No mais, sua rotina é caminhar pelo aeroporto, empurrando um carrinho de bagagem.
"Como não tenho nada a fazer, fico olhando, as vitrines das lojas, os aviões subindo e descendo, as pessoas embarcando, indo para as suas casas, e me perguntando: quando será a minha vez?"
Indagada sobre como se sente diante de uma situação tão inusitada, ela responde que jamais imaginou passar por tal experiência. "No início, tive uma mistura de sentimentos. Fiquei angustiada, tensa, amedrontada com o que poderia me acontecer, tive momentos de desânimo, mas agora relaxei. As pessoas aqui são muito boas e sempre procuram me animar. Agora, com essa possibilidade de voltar para casa, já vou sentindo saudades de todos. Quero voltar à Bahia, mas com dinheiro e tendo onde ficar, claro", diz num breve momento de descontração.
Se conseguir embarcar neste final da tarde, Cássia fará escala em Brasília, depois seguirá até Goiânia, de onde completará o percurso em uma viagem de 10 horas, de ônibus, até Palmeirópolis. "Não vejo a hora de chegar em casa. Minha família está muito preocupada", comenta. Ela tem conversado com a mãe fazendo ligações a cobrar.
Diante da perspectiva de retorno ao lar, Cássia revela que tudo o que tem passado vale como experiência. "Só não quero passar por isso outra vez. Mas consegui até fazer boas amizades aqui na Bahia e aprender um pouco de espanhol lá na Espanha."
Segundo o Departamento da Polícia Federal no aeroporto, pela legislação da imigração, ao flagrar um estrangeiro vivendo de forma ilegal, o país é obrigado a deportá-lo ao seu país de origem, mas não necessariamente para a cidade natal.
A assessoria de comunicação da Infraero na Bahia informa que o órgão, responsável pela administração do terminal aéreo, nada podia fazer para ajudá-la, nem mesmo impedi-la de permanecer no local já que "ela está numa área pública e não representa perigo para quem frequenta o aeroporto".